Refletindo sobre o tempo e a História
Devorados pelo tempo
Olá, seus lindos e lindas!
No artigo de hoje vamos refletir sobre a passagem do tempo e como ela afeta nossas vidas.
Quanto tempo nós temos?
Afinal, quanto tempo nos resta para viver?
Será possível viver tempo suficiente para descobrir todos os segredos do mundo? Ler os livros que queremos? Jogar todos os jogos? Assistir a todos os filmes e séries?
E sabe o que é mais doido nisso tudo? A humanidade não para de acumular cada vez mais filmes, mais jogos, mais livros, mais história.
Então os historiadores ao lidarem com o tempo e os seres humanos precisam fazer escolhas sobre o que será registrado ou não e essas escolhas sempre partem de problemas que encontramos em nosso presente.
O tempo é um dos elementos mais difíceis de se entender, afinal o que acabei de escrever e que você leu, já faz parte do passado, o futuro é algo intocável e inexistente, e o presente é o único momento onde podemos fazer alguma coisa.
Entretanto, a passagem do tempo é sempre transformadora.
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Ao longo da história, diversas teorias foram criadas para tentar entender o tempo e sua relação com o universo e com os seres humanos. Desde a antiguidade, filósofos, cientistas e pensadores de diversas áreas tentaram compreender a natureza do tempo e sua influência na vida e na existência humana.
A ideia de que o tempo é relativo, por exemplo, foi proposta por Albert Einstein em sua teoria da relatividade, que revolucionou a física e mudou a forma como compreendemos o universo. Segundo Einstein, o tempo e o espaço não são absolutos, mas sim relativos à posição e ao movimento do observador. Essa teoria tem implicações profundas não apenas na física, mas também na filosofia, na história e em outras áreas do conhecimento.
Além disso, a passagem do tempo tem impacto em todas as áreas da vida humana, desde a biologia até a cultura. Na biologia, o envelhecimento é um processo natural e inevitável que afeta todos os seres vivos. Na cultura, a história é a narrativa da passagem do tempo e das transformações que ocorrem na sociedade, na política, na arte e em outros aspectos da vida humana.
A passagem do tempo transforma jovens em velhos, transforma corpos e até mesmo sociedades inteiras, ficamos mais maduros, aprendemos cada vez mais e esse conhecimento vai se acumulando em proporções inimagináveis.
Então não seria demais dizer que com a passagem do tempo nos tornamos mais sábios.
Talvez alguns nem tanto.
Analise da obra o tempo de Pieter Cornellis Wonder.1810
Tempo/Museu nacional de Amsterdã, Holanda.1810
Para analisar o tempo vamos dar uma olhada na pintura de um pintor holandês chamado Pieter Cornelis Wonder.
Tempo/Museu nacional de Amsterdã, Holanda.1810
Ao olhar essa obra e pensando na questão do tempo. Quais elementos da obra representam o tempo? O que tem de fictício e o que tem de real nessa obra?
Pensando a partir da imagem podemos ver um rosto de um velho em um corpo cheio de energia, é um velhinho maromba.
Talvez o corpo represente o tempo presente, cheio de vitalidade enquanto o rosto com a barba e os cabelos brancos representem o tempo passado. E as asas podem representar que o tempo passa voando. Em um instante somos jovens e cheios de vitalidade, mas o tempo passa para todos.
Será que existe algo de realista nessa imagem?
Bom vamos pensar, poderíamos dizer que não existem velhos marombeiros assim, mas eles existem e a longevidade que os exercícios físicos trazem ajudam tanto nosso corpo quanto nossa mente a reduzir a degradação que o tempo causa a nossos corpos. Mas as asas, bom, nunca vi nenhum ser humano velho ou novo com asas. Seria esse senhor um anjo, o anjo do tempo?
Aqui para pensarmos historicamente, não basta analisar a imagem por si só precisamos conhecer um pouco do pintor, saber que Pieter Cornelis Wonder, fazia parte da escola neoclássica da pintura nos ajuda a compreender melhor alguns elementos da obra.
O neoclassicismo buscava um certo realismo na proporção humana, algo que aparece muito bem na obra sobre o tempo, afinal as medidas humanas estão todas muito bem representadas. A figura do velho com corpo musculoso para representar o tempo é inspirada em uma outra figura mitológica.
Cronos o pai de Zeus e o devorador de seus filhos. Interessante quando pensamos no personagem Cronos como devorador de seus filhos, pois nós somos os filhos do tempo.
Parafraseando Marc Bloch, “somos mais parecidos com o nosso tempo do que com os nossos próprios pais,” seremos uma hora ou outra devorados por ele.
Sabendo então que ao pensar em quanto tempo nós temos, estamos sendo constantemente devorados por esse titã chamado Cronos, podemos chegar à conclusão que não temos muito tempo. Então precisamos fazer com que cada segundo valha a pena, e a história pode nos ajudar a compreender melhor o que “fomos” para transformar o que “somos”.
À medida que envelhecemos, acumulamos experiências e aprendizados que nos tornam mais sábios e conscientes da realidade que nos cerca. No entanto, a sabedoria não é uma garantia para todos. Algumas pessoas envelhecem sem aprender muito, enquanto outras aprendem muito mesmo sendo jovens. A sabedoria também não é uma questão apenas de idade, mas de atitude e de vivência.
Essa reflexão sobre o tempo esteve presente em diversos aspectos da vida humana, além da obra de Pieter Cornelis Wonder podemos citar a escultura “O Pensador”, do artista francês Auguste Rodin.
A escultura representa um homem nu, sentado em uma pedra, com a mão no queixo e o cotovelo apoiado no joelho. A imagem transmite a ideia de alguém pensando profundamente, refletindo sobre a vida e o tempo que passa.
Outra obra que também aborda essa questão do tempo é a pintura “A Persistência da Memória”, de Salvador Dalí. A obra retrata relógios derretidos e deformados, como se o tempo estivesse se derretendo junto com eles. Essa imagem sugere que o tempo é algo que não pode ser controlado e que está sempre em constante transformação
A influência da história na representação do tempo na arte
Rodin, August. O pensador. 1904; escultura em bronze,186cm/ Dalí, Salvador. A persistência da memória.1931; óleo sobre tela, 24×33
A representação do tempo na arte é algo que sempre esteve presente ao longo da história, e podemos encontrar diversas obras que abordam esse tema de diferentes maneiras.
Na Antiguidade, por exemplo, os gregos e romanos personificavam o tempo através de figuras mitológicas, como Cronos e Saturno, que eram associados à ideia de devorar o futuro e representavam a passagem inexorável do tempo.
Já na Idade Média, a figura da Morte ganha destaque na arte, simbolizando a ideia de que o tempo é o grande equalizador de todas as coisas, e que todos estamos condenados a morrer um dia. A Morte era representada como uma figura esquelética, com uma foice, e muitas vezes era retratada como uma presença constante ao lado dos vivos, lembrando-os de sua própria mortalidade.
Na Renascença, a arte passa a ser mais realista e dar mais atenção à perspectiva e às proporções humanas, o que leva a uma representação mais precisa do tempo e do envelhecimento. Pintores como Leonardo da Vinci e Michelangelo retratam seus modelos com grande realismo, mostrando as rugas, os cabelos brancos e as marcas da idade.
Já no século XIX, com o advento da fotografia, a arte passa a buscar novas formas de representação do tempo, explorando a ideia de que uma imagem pode capturar um momento específico no tempo e congelá-lo para sempre. O impressionismo, por exemplo, busca representar a fugacidade das sensações e das emoções, mostrando como tudo é efêmero e passageiro.
Então “ que é pois o tempo? se ninguém me pergunta eu sei, se tento responder a quem me indaga já não sei” Santo Agostinho.
Pensando historicamente nas transformações que podemos causar a partir da história, podemos pensar em uma nova realidade onde podemos analisar o que “fomos” e transformar cada vez mais o que “somos”. Podemos até ser melhores do que somos, nos tornando aquilo que queremos.
Referências para saber mais:
Dalí, Salvador. A persistência da memória.1931; óleo sobre tela, 24×33
FUNARI. Pedro, Paulo;SILVA. Glaydson, José. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense,2008
Wonder.Pieter, Cornellis.Tempo/Museu nacional de Amsterdã, Holanda.1810
Rodin, August. O pensador. 1904; escultura em bronze,186cm