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Oi eu sou o Douglas!

Sou professor de História desde 2017. Minha história com a educação começou a partir de uma curiosidade insaciável. Hoje quero compartilhar histórias para fazer do mundo um lugar melhor. Vamos juntos?

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A escrita da História

Analisando documentos

Olá, jovens ainda!

Hoje, vamos falar sobre um tema muito importante e que muitas vezes passa despercebido em nosso dia a dia: a escrita da história.

Já parou para pensar como a história é construída? 

Quem são os responsáveis por escrevê-la e como eles escolhem os eventos e personagens que serão destacados? 

A história não é apenas um conjunto de fatos e datas, mas sim uma construção social e cultural, moldada pelas visões e interesses dos indivíduos que a escrevem.

Para ilustrar esse ponto, vamos analisar a obra “Uma senhora de algumas posses”, do artista francês Jean Baptiste Debret, que retrata a vida cotidiana no Brasil no século XIX. Vamos observar alguns detalhes da obra e refletir sobre o que eles nos revelam sobre a época em que foram produzidos.

Vamos lá?

Analise da obra uma senhora de algumas posses.

“Uma senhora de algumas posses em sua casa”, aquarela sobre papel, 16,2 x 23 cm, Jean-Baptiste Debret, Rio de Janeiro, 1823

A obra “Uma senhora de algumas posses” é uma pintura feita em aquarela sobre papel pelo artista francês Jean Babtiste Debret, que viveu no Brasil entre 1816 e 1831. 

Esta obra faz parte de uma série de pinturas que retratam a vida no Brasil no período colonial. A pintura representa uma senhora branca e seus “escravizados”, e aqui cabe uma ressalva em relação a palavra, afinal as palavras tem poder e como decidimos usá-las também tem. 

Aqui vamos chamar de pessoas escravizadas, pois a palavra “escravo”, muitas vezes naturaliza a ideia de alguém que é escravo por natureza, propriedade de outro. Na realidade essas pessoas não eram escravas mas sim foram escravizadas.

Isso posto vamos a analise. 

Ao analisar a obra, é possível perceber que a senhora retratada na pintura está em uma posição privilegiada, enquanto as pessoas escravizadas aparecem em uma posição submissa. Além disso, o chicote que aparece na imagem sugere que os escravos eram tratados com violência. Outro elemento que chama atenção na obra é o mico-leão-dourado, um animal selvagem que aparece na imagem como um bicho de estimação da senhora.

A obra de Debret nos permite compreender a dinâmica da sociedade brasileira no período colonial, em que a escravidão era uma prática comum. Os diferentes status dos escravizados e a presença de animais exóticos na casa dos senhores revelam a desigualdade social e o poder econômico que essas pessoas possuíam na época.

Para complementar a análise, é importante destacar que Jean Babtiste Debret foi um artista francês que veio ao Brasil em 1816 com a missão de retratar a vida no país. a obra é um importante registro histórico da sociedade brasileira do período colonial.

Mas será que essa obra de Debret representa a realidade do Brasil na época? Ou ela está moldada pela visão e interesses do próprio artista? Essa é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos historiadores na interpretação dos fatos históricos.

Analisando um contrato de compra e venda

Para complementar nossa análise sobre a sociedade  brasileira no século XIX, podemos pensar neste contrato de compra e venda de pessoas escravizadas

O documento data de 1886, esse foi um período em que a escravidão já estava oficialmente abolida no país, mas ainda era praticada de forma ilegal em muitas áreas rurais.

Ai se você é um estudante atento se ligou que a abolição foi feita apenas em 1888 correto, mas aqui precisamos analisar além do documento e do que as palavras dizem, vamos retomar algumas legislações anteriores a lei áurea e ver se fazia sentido uma pessoa escravizada aos 16 anos de idade ser vendida para outra em 1886.

Saltando no tempo para 1831 veremos que existia uma lei conhecida como Lei Feijó, essa lei estabeleceu a proibição da importação de pessoas escravizadas no Brasil, com o objetivo de combater o tráfico de escravos que ainda persistia no país.A lei dizia que as pessoas escravizadas em navios aprendidos seriam livres, a legislação ainda propos algumas exceções,e talvez por isso a lei não teve o efeito desejado e o tráfico continuou acontecendo de forma clandestina.

Posteriormente, a Lei Eusébio de Queirós de 1850 tornou o tráfico de pessoas escravizadas um crime, sujeito a punições severas. Essa lei foi importante para reduzir a entrada de pessoas escravizadas no país, mas não foi capaz de acabar completamente com o comércio ilegal de pessoas escravizadas.

O contrato começa com uma descrição da pessoa que está sendo comprada, um jovem de 16 anos chamado Luiz. Ele é descrito como sendo “bem feito de corpo e saúde, e sem vícios conhecidos”, o que sugere que sua aparência e comportamento eram fatores importantes para o comprador.

Em seguida, o contrato lista as condições da venda, que incluem o pagamento de um valor em dinheiro e a entrega do escravizado ao comprador. É interessante notar que o documento também menciona a necessidade de uma “carta de alforria”, que era um documento que concedia a liberdade ao escravizado após o pagamento de uma determinada quantia. Isso sugere que a prática da compra de alforria ainda era comum nessa época.

Outro aspecto interessante do contrato é a descrição das obrigações do comprador em relação ao escravizado. O documento afirma que Luiz será “tratado com humanidade e não maltratado”, o que indica que esse tipo de tratamento não era necessariamente garantido para os escravizados na época. Além disso, o comprador é responsável por fornecer roupas e alimentação adequadas a Luiz, o que sugere que muitos escravizados não tinham acesso a essas necessidades básicas.

Por fim, o contrato termina com uma cláusula que estipula que o escravizado não poderá deixar a propriedade do comprador sem permissão. Isso mostra que a liberdade de movimento era restrita para os escravizados, que eram essencialmente propriedade de seus donos.

No geral, esse contrato é uma evidência impactante do comércio de pessoas escravizadas no Brasil e das condições desumanas a que muitos escravizados foram submetidos. A análise desse documento é importante para entendermos melhor a história do país e suas consequências duradouras na sociedade brasileira.

Esse documento amplia a nossa visão sobre como as pessoas escravizadas eram tratadas no Brasil e também permite abordar a escrita dessa história a partir de outras perspectivas, por que temos que lembrar que a história e a historiografia nunca são neutras. 

Elas são influenciadas pelo ambiente e pelo tempo em que foram escritas, e a escolha dos fatos e personagens que serão destacados é feita pelo próprio historiador. Como disse o historiador britânico Edward Hallet, “O historiador não é um escravo humilde nem um senhor tirânico de seus fatos”.

Por isso, é importante refletir sobre as escolhas que foram feitas na escrita da história e questionar se elas representam uma visão plural e inclusiva da sociedade. Afinal, a história não é algo que já foi escrito e acabado, mas sim um processo em constante construção, que deve ser revisto e reescrito a cada nova descoberta e perspectiva.

Então, querido leitor, vamos continuar refletindo sobre a história e a historiografia juntos? Vamos nos questionar sobre os fatos e personagens que foram deixados de lado e pensar em como podemos construir uma narrativa mais justa e inclusiva. Afinal, a história é de todos nós e deve representar a diversidade e complexidade da sociedade em que vivemos.

Referências para saber mais:

DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, 1816-1831. São Paulo: Melhoramentos, 971.

https://ensinarhistoria.com.br/contrastes-sociais-brasil-colonia-debret/ – Blog: Ensinar História – Joelza Ester Domingues

FLORENTINO, Manolo. Em Costas Negras: Uma História do Tráfico Negreiro Entre a África e o Rio de Janeiro (Séculos XVIII e XIX). São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

HOBSBAWM, Eric J. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Universidade Federal da Bahia. Contrato de compra – escravo de 16 anos [documento digital]. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 1886. https://ffch.ufba.br/sites/ffch.ufba.br/files/contrato_de_compra_-_escravo_de_16_anos_-_1886.pdf

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